Hoje eu quero um dia bem diferente.
Vou prender o cabelo com laço de fita,
Rir a toa, andar descalça, displicente,
Tirar do armário o vestidinho de chita.
Nada de cintos e golas me apertando!
Por debaixo da saia, nenhuma anágua.
Sentir a chuva caindo, me purificando,
E apagando do peito a trilha da mágoa.
Hoje eu quero o vento batendo no rosto,
Não quero mais chorar pelo bolo solado;
Quero o pé na estrada, sem parar no posto,
Viver a dor e a delícia de um beijo roubado!
Nada de métrica violentando meu verso,
Nenhuma margem limitando minha folha;
Nada de balança ou espelho perverso,
Nenhuma má influência na minha escolha!
Vou quebrar uma regra e pagar uma prenda.
Eu quero a leveza do sonho da noite passada;
Nos olhos, só a esperança e nenhuma venda,
E no peito, a certeza do amor e mais nada!